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29 de agosto de 2011

A VERDADE SOBRE OS INDIOS BRASILEIROS 2 -EXTRAÍDO DO LIVRO GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA HISTÓRIA DO BRASIL

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QUEM MAIS MATOU ÍNDIOS FORAM OS ÍNDIOS

Uma das concepções mais erradas sobre a colonização do Brasil é
acreditar que os portugueses fizeram tudo sozinhos. Na verdade, eles
precisavam de índios amigos para arranjar comida, entrar no mato à procura
de ouro, defender-se de tribos hostis e até mesmo para estabelecer
acampamentos na costa.
Descer do navio era o primeiro problema. Os comandantes das
naus europeias costumavam escolher bem o lugar onde desembarcar, para
não correr o risco de serem atacados por índios nervosos e nuvens de flechas
venenosas. Tanto temor se baseava na experiência. Depois de meses de
viagem nas caravelas, os navegadores ficavam mal nutridos, doentes, fracos,
famintos e vulneráveis. Chegavam a lugares desconhecidos e
frequentemente tinham azar: levavam uma surra e precisavam sair às pressas
das terras que achavam ter conquistado. Acontecia até de terem que
mendigar para arranjar comida, como na primeira viagem de Vasco da
Gama à índia, em 1498.
Vasco da Gama ofereceu a corte de Calcutá chapéus, bacias e azeite
em troca de pimenta. Os nobres indianos consideraram os produtos
ridiculamente primitivos, e só não executaram o
navegador porque não viram ameaça no estranho esfarrapado. Sem dinheiro
para alimentar a tripulação, Vasco da Gama mandou que seus homens sujos
e famintos fossem para as ruas pedir por comida.
O tratamento foi diferente no Brasil, mas nem tanto.
Os portugueses não eram seres onipotentes que faziam o que quisessem nas
praias brasileiras. Imagine só. Você viaja para o lugar mais desconhecido do
mundo, que só algumas dúzias de pessoas do seu país visitaram. Há sobre o
lugar relatos tenebrosos de selvagens guerreiros que falam uma língua
estranha, andam nus e devoram seus inimigos — ao chegar, você percebe
que isso é verdade. Seu grupo está em vinte ou trinta pessoas; eles, em
milhares. Mesmo com espadas e arcabuzes, sua munição é limitada, o
carregamento é demorado e não contém os milhares de flechas que eles
possuem. Numa condição dessas, é provável que você sentisse medo ou pelo
menos que preferisse evitar conflitos. Faria algumas concessões para que
aquela multidão de pessoas estranhas não se irritasse.
Para deixar os índios felizes, não bastava aos portugueses entregar-
lhes espelhos, ferramentas ou roupas. Eles de fato ficaram impressionados
com essas coisas (veja mais adiante), mas foi um pouco mais difícil
conquistar o apoio indígena. Por mais revolucionários que fossem as roupas
e os objetos de ferro europeus, os índios não viam sentido em acumular
bens: logo se cansavam de facas, anzóis e machados. Para permanecerem
instalados, os recém-chegados tiveram que soprar a brasa dos caciques
estabelecendo alianças militares com eles. Dando e recebendo presentes, os
índios acreditavam selar acordos de paz e de apoio quando houvesse alguma
guerra. E o que sabiam fazer muito bem era se meter em guerras.
O massacre começou muito antes de os portugueses chegarem. As
hipóteses arqueológicas mais consolidadas sugerem que os índios da família
linguística tupi-guarani, originários da Amazônia, se expandiam lentamente
pelo Brasil. Depois de um crescimento populacional na floresta amazônica,
teriam enfrentado alguma adversidade ambiental, como uma grande seca,
que os empurrou para o Sul. À medida que se expandiram, afugentaram
tribos então donas da casa. Por volta da virada do primeiro milênio,
enquanto as legiões romanas avançavam pelas planícies da Gália, os tupis-guaranis conquistavam territórios ao sul da Amazônia, exterminando
ou expulsando inimigos. Índios caingangues, cariris, caiapós e outros da
família linguística jê tiveram que abandonar terras do litoral e migrar para
planaltos acima da serra do Mar.

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Em 1500, quando os portugueses apareceram na praia, a nação tupi
se espalhava de São Paulo ao Nordeste e à Amazônia, dividida em diversas
tribos, como os tupiniquins e os tupinambás, que disputavam espaço
travando guerras constantes entre si e com índios de outras famílias
linguísticas. Não se sabe exatamente quantas pessoas viviam no atual
território brasileiro - as estimativas variam muito, de l milhão a 3,5 milhões
de pessoas, divididas em mais de duzentas culturas. Ainda demoraria alguns
séculos para essas tribos se reconhecerem na identidade única de índios, um
conceito criado pelos europeus. Naquela época, um tupinambá achava um
botocudo tão estrangeiro quanto um português. Guerreava contra um
tupiniquim com o mesmo gosto com que devorava um jesuíta. Entre todos
esses povos, a guerra não era só comum - também fazia parte do calendário
das tribos, como um ritual que uma hora ou outra tinha de acontecer.
Sobretudo os índios tupis eram obcecados pela guerra. Os homens só
ganhavam permissão para casar ou ter mais esposas quando capturassem um
inimigo dos grandes. Outros grupos acreditavam assumir os poderes e a
perspectiva do morto, passando a controlar seu espirito, como uma espécie
de bicho de estimação. Entre canibais, como os tupinambás, prisioneiros
eram devorados numa festa que reunia toda a tribo e convidados da
vizinhança.

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A palavra “mingau” vem da pasta feita com as vísceras cozidas do
prisioneiro devorado pelos tupinambás.
Com a vinda dos europeus, que também gostavam de uma guerra,
esse potencial bélico se multiplicou. Os índios travaram entre si guerras
duríssimas na disputa pela aliança com os recém-chegados. Passaram a
capturar muito mais inimigos para trocar por mercadorias. Se antes valia
mais a qualidade, a posição social do inimigo capturado, a partir da
conquista a quantidade de mortes e prisões ganhou importância. Por todo o
século 16, quando uma caravela se aproximava da costa, índios de todas as
partes vinham correndo com prisioneiros - alguns até do interior, a dezenas
de quilômetros. Os portugueses, interessados em escravos, compravam os
presos com o pretexto de que, se não fizessem isso, eles seriam mortos ou
devorados pelos índios. Em 1605, o padre Jerônimo Rodrigues, quando
viajou ao litoral de Santa Catarina, ficou estarrecido com o interesse dos
índios em trocar gente, até da própria família, por roupas e ferramentas:
Tanto que chegam os correios ao sertão, de haver navio na barra,
logo mandam recado pelas aldeias para virem ao resgate. E para isso trazem
a mais desobrigada gente que podem, scilicet, moços e moças órfãs, algumas
sobrinhas, e parentes, que não querem estar com eles ou que os não querem
servir, não lhe tendo essa obrigação, a outros trazem enganados, dizendo
que lhe farão e acontecerão e que levarão muitas coisas [...]. Outro moço
vindo aqui onde estávamos, vestido em uma camisa, perguntando-lhe quem
lha dera, respondeu que vindo pelo navio dera por ela e por alguma
ferramenta um seu irmão, outros venderam as próprias madrastas, que os
criaram, e mais estando os pais vivos.

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No livro Sete Mitos da Conquista Espanhola, o historiador
Matthew Restall fala do guerreiro invisível que matou os índios do México.
Se os espanhóis estavam em um punhado de aventureiros e os astecas, em
milhões, como os primeiros podem ter conseguido conquistar o México? É
claro que não foi ato de um guerreiro invisível (embora epidemias tenham
matado muita gente). Na verdade, os espanhóis não estavam em poucos. ”O
que com frequência é ignorado ou esquecido é o fato de que os
conquistadores tendiam a ser superados em número também por seus
próprios aliados nativos”, afirma Restall. Os espanhóis ficaram de um lado
da guerra entre facções astecas - ajudaram os índios e ganharam a ajuda
deles. É razoável supor que, se houvesse algum senso de solidariedade
étnica no México, a conquista seria muito mais difícil ou talvez impossível.
Pode-se dizer o mesmo sobre o Brasil. O extermínio
e a escravidão dos índios não seriam possíveis sem o apoio dos próprios
índios, de tribos inimigas. Eles forneceram o suporte militar às bandeiras,
os assaltos que os paulistas faziam ao interior para capturar escravos ou
destruir nativos hostis. Também dependia deles a guarda das colônias
portuguesas. As bandeiras são geralmente apontadas como a maior causa de
morte da população indígena depois das epidemias. Em cada uma, havia no
mínimo duas vezes mais índios - normalmente dez vezes mais. Sobre a mais
mortífera delas, a que o bandeirante Raposo Tavares empreendeu até as
aldeias jesuíticas de Guaíra, no extremo oeste paranaense, os relatos
apontam para uma bandeira formada por 900 paulistas e 2 mil índios tupis.
”No entanto, nestas versões, o total de paulistas parece exagerado, uma vez
que é possível identificar apenas 119 participantes em outras fontes. Além
disto, a razão de dois índios por paulista seria muito baixa quando
comparada a outras expedições”, escreveu o historiador John Manuel
Monteiro no livro Negros da Terra.
Cogita-se até que o modelo militar das bandeiras seja resultado
mais da influência indígena que europeia. ”É difícil evitar a impressão, por
exemplo, de que as bandeiras representavam uma predileção tupi por
aventuras militares”, afirma o historiador Warren Dean.
Essa imersão em um conjunto nativo de valores era de se esperar,
dado o quanto eram escassos nessas sociedades militarizadas os capitães e
tenentes brancos, o quanto eram tupis seus sargentos mestiços e o quanto as
normas de comportamento devem ter sido não europeias nas trilhas e nos
campos de batalha das selvas.

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Mesmo a distinção entre bandeirantes paulistas e índios é difusa.
Muitos dos chamados ”bandeirantes paulistas” eram mestiços de primeira
geração: tinham mãe, tios e primos criados nas aldeias e pareciam mais
índios que europeus.
O melhor exemplo é Domingos Jorge Velho, bandeirante paulista
que destruiu o Quilombo dos Palmares. Filho de um europeu com uma
índia, ele não falava português. Assim como quase todos naquela época,
expressava-se na língua geral tupi-guarani.
As tribos não apoiavam os colonos por alguma obediência cega.
Seus líderes, que também participavam das bandeiras e das batalhas,
estavam interessados na parceria para derrotar outras tribos. O padre José
de Anchieta percebeu isso em 1565. Os tupinambás, tradicionais
adversários dos colonos, de repente se mostraram dispostos a deixar de
guerrear com os portugueses. O real motivo dessa aliança surpreendente era
”o desejo grande que têm de guerrear com seus inimigos tupis, que até
agora foram nossos amigos, e há pouco se levantaram contra nós”,
acreditava o padre. Uma frase escrita pela historiadora Maria Regina
Celestino de Almeida resume muito bem as guerras indígenas: ”Se os
europeus se aproveitaram das dissidências indígenas para fazerem suas
guerras de conquista por território, também os índios lançaram mão desse
expediente para conseguir seus próprios objetivos”.
Um bom exemplo da participação deliberada de índios no
extermínio de índios é a Guerra dos Tamoios, entre 1556 e 1567. Os
tupiniquins e os temiminós ajudaram os portugueses a expulsar os franceses
do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, lutavam contra antigos inimigos: os
tupinambás, também chamados de tamoios. Depois de vencerem, os nativos
aliados dos portugueses ganharam terras e uma posição privilegiada de
colaboradores do reino português. Ficaram responsáveis pela segurança do
Rio, na tentativa de evitar ataques à cidade conquistada. Transformaram-se
no índio colonial, um personagem esquecido da história brasileira que será
lembrado a seguir.

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